Gosto de construir com as pessoas desde a raiz. Desenhar o conceito, o objeto, produzi-lo e apresentá-lo em conjunto faz com que tudo tenha um propósito e que as pessoas sintam que estão a acompanhar um processo com progresso.

A intenção do trabalho que nós fazemos é procurar com as pessoas a imensidão de soluções que podem ser dadas para construir um objeto. É no problema e na solução falada em grupo que se criam as soluções e as relações. Para mim isso é o mais importante. 

Muitas das vezes, quando me começo a relacionar com pessoas, eu não vou logo diretamente para a parte íntima, em vez disso uso o projeto ou a necessidade de nos estarmos todos ali a apresentar para abrir uma brecha para falar com a pessoa e saber mais dela. Tento então criar uma relação horizontal com as pessoas porque no momento de trabalharmos juntos, com as ferramentas e materiais, estamos de igual para igual. Eu tenho tanto a aprender com a pessoa que está à minha frente como essa pessoa tem algo a ensinar-me.

Sinto que esta abertura ajuda muito para que a pessoa sinta a vontade de mostrar os seus sentimentos e frustrações, que são tão importantes como a responsabilidade e concentração que tem no que está a fazer. A caminhada que fazemos com as pessoas é em si o mais importante. O contínuo relacionamento que temos com elas, o sentido de confiança, de amizade que se cria, é para mim o melhor do nosso trabalho. 

Queremos assim capacitar pessoas socialmente e profissionalmente. 

 

O nosso trabalho com a Saber Compreender vem também dessa aprendizagem de que trabalhar colaborativamente é muito mais benéfico para todos. A inclusão social é feita a várias vertentes porque as necessidades das pessoas abrangem diferentes áreas. Esta mistura de valências é muito importante porque daí acrescem mais soluções. O nosso trabalho pode complementar assim o trabalho de outras associações na formação, capacitação e sociabilização das pessoas que precisam desse apoio. 

O trabalho da Saber Compreender acrescenta em muito o nosso trabalho, não só pela metodologia da educação a pares como também pela atividade que fazem em ir de encontro diretamente às pessoas que estão a viver nas ruas. O El Warcha desenvolve trabalho dentro dos centros de acolhimento temporários, abrangendo um grupo diferente de pessoas em situação de sem-abrigo. 

 

A altura da pandemia fez-nos perceber que era urgente fazermos o que estamos a fazer com um evidente porquê. Acreditamos que não é na reacção que está a resposta às problemáticas ligadas à exclusão social mas sim na prevenção das mesmas. 

 

A construção de centros de acolhimento temporário, ou a modificação de edifícios em desuso devido a pandemia para servirem esta necessidade são efetivamente importantes e tiveram um crescimento exponencial. Mas esta resposta à pandemia não pode ficar por aqui. Projetos como o Housing First, ou Apartamentos Partilhados são importantes para a transição das pessoas e a sua inclusão na sociedade. 

Mas ter uma casa é apenas uma das necessidades básicas e principais do ser humano. Há muitas outras que têm de ser tidas em conta, como o direito ao trabalho, educação, alimentação digna, uma rede social de apoio.

 

E nesses pontos que devemos trabalhar todos em conjunto, para uma integração mais justa e igualitária. 

Texto por Inês F. Marques